Atrás da Porta

Não que precise chegar em alguma coisa. O que é preciso é sair de onde estamos"

- Trecho de O Amante (1984), de Marguerite Duras

Foi por essa porta que vi passar, não uma, mas duas pessoas que não consegui identificar. Só sei que uma carregava flores muito coloridas e a outra carregava um cesto. Munido de muitas tintas diferentes, fiz da porta uma obra de arte sem ser visto. Ninguém nunca mais voltou para abrir a porta ou saiu de lá de dentro. Eu que esperava pelas mais variadas reações, fiquei sem retorno algum. 
Depois a rua foi interditada e ficou impossível de alguém passar em frente a porta. Impedida de ser apreciada, permaneceu com suas cores inalteradas mesmo depois que o mundo acabou.
Restaram apenas a porta e eu, portanto não me sinto só.
Um dia finalmente ela se abriu. No início um silêncio sem luz me deixou entretido. Não me restava nada além de aguardar qualquer surpresa, o que quer que saísse de lá seria bem-vindo.
Nada aconteceu, a porta se fechou e de novo passei a admirá-la como se fosse a primeira vez.
Não a criei apenas pra mim e no final cá estamos apenas ela e eu nos encarando. Sei que não poderei levá-la comigo pra onde eu for - ela pertence ao mundo que acabou e que se prepara pra recomeçar. 



                            Atrás da Porta 

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